O primeiro proprietário do terreno em que se acha a atual Matriz de São João Batista do Brás, na Avenida Celso Garcia, foi o Sr. João Alves de Siqueira, no ano de 1858, que em testamento deixou-o a umas pobres lavadeiras.
Essas lavadeiras ganhavam o seu pão cotidiano com seu humilde trabalho, às margens de um pequeno riacho, cujas águas se têm diminuído muito, correm perto da Matriz; porém agora canalizadas pela municipalidade.
Com o correr dos tempos morreram as lavadeiras e o terreno ficou em 1870 como res nullius, até que a Câmara Municipal, por volta de 1885 na pessoa do seu então presidente, o Dr. João Mendes de Almeida, tentou fazer ali um chafariz, para beneficiar os moradores do Marco da Meia Legoa. A isto se opôs o Sr. Carlos Augusto Bresser, forte proprietário de terrenos no bairro, dizendo que seria melhor fazer-se naquele ponto uma Capela; que, embora modesta, poderia ser de grande proveito para os fiéis católicos do bairro.
A câmara municipal concordou com Sr. Carlos Augusto Bresser, tendo sido então criada uma comissão que ia se encarregar da construção de uma Capela no terreno aludido.
Formou-se então uma comissão composta pelos Srs.: Carlos Augusto Bresser, Comendador José Monteiro Pinheiro e João Bohemer, todos proprietários abastados no bairro e vizinhos muitos próximos do local em questão.
Dando inicio imediato às obras da primitiva Capela que ia ser erigida em honra a São João Batista, em homenagem ao Sr. João Bohemer, um dos grandes beneméritos da nossa Paroquia.
E a construção da primitiva Capelinha prosseguia, mas, como surge dificuldade em todas as boas obras, a comissão também teve que, para solidificar a sua obra, um enorme empecilho na cobertura do edifício, aconteceu um desmoronamento na construção, a comissão não poupou esforços para reparar o desmoronamento, depois de proceder a solidificação dos alicerces, conforme exigiam as proporções do edifício e as condições pouco vantajosas e firmes do terreno.
No dia 2 de fevereiro de 1889, o Revmo. Pe. Cândido Correa, então Vigário de São José do Belém, procedeu solenemente à benção da nova Capela, celebrando em seguida a sua 1ª Missa.
Durante o espaço de dois anos o movimento religioso da Capela foi pouco considerável, porque não tendo Capelão certo só havia a Santa Missa aos domingos e dias santos.
Em 1901, os frades capuchinhos iniciaram a ação católica nesta Capela. Trabalharam incessantemente; pregaram ao povo, chamando-o à prática dos seus deveres religiosos; ensinaram o Catecismo; prepararam crianças para a primeira comunhão; fundaram diversas práticas de piedade, como a recitação do terço do rosário, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e de Maria Santíssima. Entre estes franciscanos muito se distinguiu Frei Daniel, pela sua assiduidade e zelo verdadeiramente apostólico que sempre manifestou no seu nobre ministério sacerdotal. Ainda neste ano, o estimado Pe. Martins Ladeira assumiu a direção da capela de São João Batista, a convite da benemérita Dª Ana Bresser, e vinha em todos os domingos e dias santificados celebrar o Santo Sacrifício na Capela.
“Rara fotografia do Revmo. Cônego João Martins Ladeira (1925) – Acervo Paróquia N. S. Auxiliadora.”
“Em agosto de 1908, o Exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano, Dom Duarte Leopoldo e Silva, encarregou o Mons. José Rodrigues Sekhler como Vigário do Braz, para iniciar as obras da nova parte do templo e aumentar e preparar a criação da nova Paróquia.
Mons. Rodrigues Sekhler, com muito esforço, conseguiu lançar os alicerces da nova parte da construção que iria se iniciar, para adaptar a Capela à Matriz da nova Paróquia prestes a ser criada.”
‘O São Paulo’, órgão oficial do arcebispado, no dia 4 de outubro de 1908 dava a seguinte notícia:
“Paróquia São João Batista do Belém;
“Foi lavrado ontem o decreto criando nesta capital a nova Parochia de São João Baptista do Belém, tendo sido elevada à categoria de Matriz a Capella de São João Baptista.
Para a nova Parochia será nomeado Vigário o Revmo. Pe. Manoel Meirelles Freire, coadjutor da Parochia Santa Cruz de Campinas.”
Dias depois, era nomeado o novo Vigário para a nova Paróquia recentemente criada. No dia 18 de outubro de 1908, à estação da Missa, tomou posse da vigaria. A posse foi solene; ao ato compareceram os Monsenhor José Rodrigues Sechler e Pe. José de Aguirre, respectivamente Vigários do Brás e de São José do Belém.
Como a Matriz é Pequena para conter o povo, era preciso que houvesse mais uma Missa aos domingos e dias santos, aconteceu então a inauguração da parte aumentada da Matriz. A inauguração foi no dia 26 de setembro de 1909. Foi dada a benção Pelo Vigário Pe. Manoel Meirelles Freire, em seguida houve Missa rezada Pelo Pe. Nicolau Carpinelli e Pe. Antônio Sérgio Gonçalves.
Nova Matriz – Lançamento da 1ª Pedra
Estando tudo preparado para o início das obras da nova Matriz, tendo-se obtido a licença por uma especial lei da Câmara Municipal para se construir no mesmo lugar da antiga, era chegado o momento de se pôr mãos à obra e iniciar, sem perda de tempo, a tão preciosa construção. De acordo com o Exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano marcou-se o dia 24 de junho de 1916. Chegado que foi o dia, às 3 horas da tarde, compareceu o Exmo. Sr. Arcebispo, em companhia de Monsenhor Dr. Benedito de Souza, D. D. Vigário-Geral e orador oficial da festa.
Às 15 horas já era grande a multidão de paroquianos no Largo da Matriz. Além do Sr. Arcebispo Metropolitano e Mons. Dr. Benedito de Souza, compareceram à solenidade os Revmos. Srs. Cônegos: Antônio Augusto Lessa, José Hygino de Campos e José Joaquim Rodrigues de Carvalho; Revmos. Padres José Ferreira de Seixas, coadjutor; José Francisco e Chagas, redentoristas; Padre Luiz Peres, Agostiniano, e o Revmo. Padre Luiz Gonzaga Rizzo – Secretário Particular do Exmo. Sr. Arcebispo.
Todas as Associações Paroquiais, com os seus estandartes e respectivos distintivos, numerosos paroquianos de um e outro sexo, velhos e velhas, moços, meninos e crianças. Também se fizeram representar as associações do Brás, São José e da Penha.
Ao repicar festivo dos sinos, chegava o Exmo. Sr. Arcebispo, à hora marcada, sendo recebido com toa honra devida à sua dignidade. Em seguida, começou a cerimônia do lançamento da 1ª pedra da nova Matriz.
O Sr. Arcebispo revestiu-se de seus paramentos pontificais, mitra e báculo, encaminhando-se para o local apropriado, onde foi propositalmente levantado um Altar. Acolitavam Sua Excia. Revma o Exmo. Revmo. Monsenhor Dr. Benedito de Souza, D. D. Vigário-Geral, Cônego Antônio Augusto Lessa, Tesoureiro-Mor, Cônego Dr. Hygino de Campos, Vigário do Brás e Cônego Meirelles Freire, Vigário de São João Batista.
Feita toda a cerimônia, cantada que foi a ladainha de todos os santos, o Sr. Arcebispo desceu ao local para lançar a 1ª pedra.
Terminada toda a cerimônia, o Exmo. Revmo. Sr. Monsenhor Vigário-Geral subiu à tribuna para, como orador oficial, produzir o discurso oficial, o que conseguiu Sua Excia., ouvido sempre em meio do maior respeito e silêncio, apesar da multidão que atentamente o ouvia no vasto largo da Matriz.
Sua Excia. Falou sobre a cerimônia, do momento, que alta significação tinha ela na Igreja de Deus; o quanto se achava satisfeito o Exmo. Sr. Arcebispo naquele momento em que mais uma vez lançava na sua Arquidiocese a pedra fundamental de um novo templo levantado à Glória do Senhor.
Convidou os paroquianos de São João Batista a auxiliarem o seu Vigário no desempenho da sua missão, para que brevemente naquele mesmo lugar se possa ver um templo suntuoso, um novo templo, que seja para as gerações futuras o atestado da fé e valor dos paroquianos de São João Batista.
Monsenhor Benedito de Souza terminou o seu belíssimo discurso, que causou excelente impressão, em meio do maior entusiasmo, recebendo depois muitos cumprimentos.
Engenheiros e Ata da Matriz – A planta da nova Matriz foi feita pelo distinto engenheiro civil Dr. Heribaldo Siciliano, que com a melhor boa vontade tem se esforçado pela obra, e desinteressadamente. No ato foi sua Excia. representado pelo Arquiteto Alberto Sironi, seu auxiliar de escritório. A ata que foi encerrada na urna é um belíssimo trabalho, contém uma belíssima alegoria, trabalho do pintor Petrilli, feita em pergaminho, sendo os esplêndidos tipos de letra em sistema gótico.
A ata é a seguinte:
“Lançamento da Primeira Pedra da Nova Matriz de São João Batista: Aos vinte e quatro de Junho de mil novecentos e dezesseis, nesta arquiepiscopal cidade de São Paulo, governando a Santa Egreja Romana S.S. o Papa Bento XV, sendo Núncio Apostólico no Brasil o Exmo. Revmo. Sr. Dom José Aversa, Arcebispo de Sardes, 1º Arcebispo Metropolitano de São Paulo Dom Duarte Leopoldo e Silva, Vigário-Geral do Arcebispado Monsenhor Dr. Benedito de Souza; Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil o Dr. Wenceslau Braz Pereira Gomes, Presidente do Estado de São Paulo Dr. Altino Arantes, Presidente da Câmara Municipal de São Paulo o Barão Raymundo Duprat e Prefeito Municipal o Dr. Washington Luiz Pereira de Souza, foi lançada a primeira pedra da nova Matriz de São João Batista.”
O ato foi presidido pelo Exmo. Revmo. Sr. Arcebispo Metropolitano de São Paulo, que benzeu solenemente a pedra fundamental. O discurso oficial foi pronunciado pelo Exmo. e Revmo. Monsenhor Dr. Benedito de Souza. Assistiram a esta solenidade muitos sacerdotes, numerosos membros de associações religiosas de um e outro sexo e uma multidão de fiéis, não só da Paróquia como das Paróquias vizinhas. Numa urna foi encerrada, em pergaminho, a ata que relata a solenidade, juntamente com moedas correntes do país, jornais do dia.
E com esforços de Monsenhor Meirelles e dos paroquianos a nova matriz foi ganhando forma, “No dia 5 de Julho de 1924, estourou uma revolução em São Paulo, chefiada pelo Gal. Izidoro Dias Lopes, oficial reformado do Exército. Foram 23 dias de tumultos e convulsão geral, até que a Polícia Estadual e a Marinha Nacional pudessem conter a revolta. Nossa Matriz foi atingida por granadas e balas, mas os estragos foram reparados.”
“Durante a revolução de 32, todas as tardes faziam-se na Matriz orações pela paz. Congregados da S. João auxiliavam famílias de combatentes na distribuição de mantimentos.
A Paróquia São João Batista do Brás nos mais de 100 anos de sua existência, com sua fundação, ainda como uma singela Capela no período da Monarquia, presenciou a proclamação da República, passou pela gripe espanhola, viu o bairro do Brás se modificar com a industrialização, e com a chegada de imigrantes italianos e espanhóis, passou por revoluções de 1924 e 1932, foi testemunha de vários fatos históricos no Brasil e no mundo, continua a receber os devotos de São João Batista do Brás, que vem de vários lugares para agradecer uma graça alcançada, foi a primeira Paróquia criada na arquidiocese de São Paulo, logo após ser elevada de Diocese para Arquidiocese.
A Paróquia São João Batista continuara exercendo sua missão no bairro do Brás, e na Cidade de São Paulo, sendo testemunha de Deus no meio do Povo.